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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Fim de ano - Parte 1


Janeiro de 2010. A separação dos meus pais ainda era recente, o câncer da minha avó se agravava cada vez mais, a dor de perder meu primeiro amor era muito forte e uma nova escola me aguardava.
Não estava ansioso, nem preocupado, muito menos com medo, talvez eximira todos os sentimentos. Tornei-me vazio, mas não no sentido ruim da palavra, apenas para deixar-me preencher com tudo que aprendesse durante o ano, por bem, ou por mal.
Tenho vagas lembranças sobre o primeiro semestre, por isso adianto minhas desculpas pela falta de detalhes.
Pois bem, estudei desde a quarta série na mesma escola e por minha escolha decidi mudar pra uma escola pública no segundo ano do ensino médio. Além de motivos particulares, era o que eu poderia fazer para ajudar a diminuir todo o problema financeiro que minha família sempre teve e que se agravou depois da separação dos meus pais.
A “nova escola” está inserida em um padrão elevadíssimo do ensino público. Institui uma série de regras, é rígida no ensino, mantém o espaço físico extremamente limpo, novo e organizado, o que é difícil de acontecer nas escolas públicas brasileiras. Isso me deu uma falsa certeza de que me adaptaria com facilidade.
A primeira decepção foi ter conseguido vaga apenas no período noturno, mas logo fui pra manhã em uma das melhores salas em termos de nota, isso me acalmou no primeiro momento.
Entretanto a maior decepção foi encontrar uma diretoria preconceituosa e com atitudes arcaicas, mais parecidas com regimento de escola militar. Jovens com piercings e outros adereços “estranhos” não são aceitos pela escola. Garotos com cabelo médio ou grande muito menos. Roupas “diferentes”, ou uma maquiagem mais caprichada também são mal vistas pela diretoria.
Eu por exemplo, fui “expulso” a gritos da direção no primeiro dia de aula por estar com o cabelo comprido. Tão logo fui obrigado a esconder todos os dias meu alargador de apenas seis milímetros com um pedaço de esparadrapo ridículo para poder assistir às aulas.
Essa negativa norma (segundo a diretoria, a boa aparência prepara o aluno para o mercado de trabalho e para o mundo), induz ao pensamento atrasado e discriminatório, afinal o bom desempenho profissional e cívico depende de mim, do meu esforço, e dos meus princípios e não da minha aparência.
Fica claro o meu descontentamento nesse aspecto, mas também pude sentir na pele a carência do ensino público. Embora essa escola seja uma das melhores da rede do governo, infelizmente deixa muito a oferecer na educação.
Pessoas... Eis a parte mais delicada a descrever. Algumas indiferentes, muitas excepcionais, e outras, mais que especiais. Nessa escola encontrei um pessoal esforçado demais, e não pude deixar de compará-los com meus outros colegas da escola particular. Com isso defini que, são os alunos certos, na escola errada. Imagino o quanto essa galera esforçada da rede pública desenvolveria seu potencial se obtivessem a chance de ter ensino ao nível de uma instituição particular. Devo salientar que não generalizo, há os que honram o dinheiro gasto pelos pais, poucos, mas existem.
Acabei alongando demais o que tinha pra dizer sobre essa escola, mas finalizando... Lá, conheci alguém que hoje é um dos meus melhores amigos. Com ele aprendi realmente o valor de uma amizade, que vai muito além de brincadeiras e risadas. Um cara que soube impor presença desde os míseros momentos até os mais marcantes. Um cara que virou um irmão.
Lá, aprendi a valorizar gestos que não dava a devida importância. Lá amadureci muitos pensamentos e opiniões. Lá conheci pessoas maravilhosas, que me cativaram, e que não vou esquecer tão fácil o que cada uma acrescentou a mim. Embora tivesse provado o sabor amargo dos desgostos que senti, sou grato pelo tempo que ali estive.

Um comentário:

  1. O amor pela direção de tal escola pública acredito que seja unânime /meeeeeega ironia

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